Extrait Wanda RAMOS

Wanda RAMOS
Chronique sur fond d’estuaire
traduit du portugais par Claire Cayron
ISBN 2-903945-53-5
1998
16 €

Le Building a quelque chose d’un gigantesque navire ici amarré, que le pont levant n’a pas laissé passer, que le canal n’a pas pu contenir, et qui s’est échoué. Le Building est l’endroit où j’habite et habiterai durant plus d’un mois de grandes et larges fenêtres tiennent lieu de vigies et le sol est stable, mais il garde quelque chose d’un navire éternellement échoué et de son bastingage, l’appui des fenêtres, je ne vois que l’eau, les bouées, les phares, les ponts et une rive lointaine ourlée de lumières quand il fait nuit. Le Building, ici, on l’appelle "Bilding". C’est au Building que tout commence et – qui peut le dire, du moins pour l’instant ? – que tout doit s’achever ?
Je n’y avais encore jamais pensé mais, au bout du compte, voyages transatlantiques, paquebots, ports et quais ont fait partie de l’horizon de Muriel quasiment depuis sa naissance. La mer comme une immense route liquide, ondulante, qui change de couleur et d’humeur à tout moment et doit (forcément) mener quelque part, est une expérience qu’elle a eue pour la première fois à neuf ans sur le grand transatlantique la ramenant "do Ultramar" (comme il fut important, là-bas, durant des décennies, ce nom, ce mot abstrait, sans contour géographique ni topographique, toujours prononcé sur un ton hautain et emphatique et pas seulement là-bas, à coup sûr, mais également ici dans sa forme équivalente, outre-mer, l’un et l’autre mot faisant partie d’imaginaires collectifs, mais surtout de manières de se croire pays, nation, patrie, peuple, et patati et patata) ; une expérience renouvelée plus tard, plusieurs fois, de façon tout à fait différente mais aussi intense, depuis les nuages, en regardant au-dessous et découvrant ce corps sans fin, étiré, scintillant : l’océan, l’Atlantique. Le même qu’ici, le même que là-bas ; c’est toujours l’Atlantique qui ceinture notre vie, nous les peuples les plus occidentaux d’Europe. Mais Muriel, et peut-être la plupart des gens, ne parle jamais d’océan et dit presque toujours "la mer".

traduit du portugais par Claire Cayron

O Building será como um gigantesco barco aqui arribado, que a ponte levadiça não deixou passar, nem coube no canal, e ficou encalhado. O Building é onde habito e habitarei mais de um mês, tem grandes janelas rasgadas em vez de vigias e o chão é estável, mas mesmo assim não deixa de ser como um barco eternamente encalhado, de cuja amurada, que são os rebordos das janelas, só avisto água, bóias, faróis, pontes e uma margem longínqua orlada de luzes se for noite. Ao Building aqui chamam Bildíng. O Building é onde tudo começa e - quem poderá dizer, pelo menos por enquanto ? - tudo tende a acabar ?

Ainda não tinha pensado nisso, mas afinal, viagens transatlânticas, paquetes, portos, cais têm feito parte do horizonte de Muriel quase desde que nasceu. Essa experiência do mar como uma imensa estrada líquida, ondulante, que muda de cor e de humor a todo o momento e deve (tem forçosamente de) levar a algum lado, teve-a primeiro aos nove anos no grande transatlântico que a trouxe do Ultramar (como foi importante lá-bas, durante décadas, este nome, esta palavra abstracta e sem contornos geográficos, nem topográficos, sempre pronunciada num tom de voz altaneiro e cheio e decerto não apenas là-bas, mas também por aqui o seu equivalente outre-mer, ambos fazendo parte não só de imaginários colectivos, mas sobretudo de maneiras de se crer país, nação, pátria, povo, blá-blá) mais tarde repetida, essa experiência, por várias vezes, de um modo completamente diferente mas ainda assim intenso, do alto das nuvens olhando para baixo e vendo aquele corpo sem fim estiraçado e cintilante que era o oceano : o Atlântico. O mesmo de aqui, o mesmo de lá-bas, é sempre o Atlântico que espartilha o nosso viver, destes povos mais ao ocidente da Europa. Mas Muriel, e talvez a maior parte das pessoas, nunca falam de oceano e dizem quase sempre o mar.